Por Gilson Salomão Pessôa
A Guerra da Bósnia aconteceu entre 1992 e 1995, em função de uma complexa combinação de fatores envolvendo grupos étnicos e religiosos típicos da região. A disputa entre sérvios cristãos ortodoxos, croatas católicos romanos e bósnios muçulmanos deixou um rastro de aproximadamente 200 mil vítimas.
Ao final do conflito, o jornalista freelancer Joe Sacco chega na capital Sarajevo determinado a obter informações sobre o ocorrido, sendo instruído a procurar um homem chamado Neven. Depois de estabelecida uma relação de amizade entre eles, o ex-participante de um dos grupos paramilitares locais começa a lhe contar histórias que ele protagonizou e testemunhou durante aquele período.
O quadrinista usa de flashbacks para contar o passado de alguns dos envolvidos, informando os leitores a respeito de suas respectivas trajetórias pessoais que contribuem para que possamos entender algumas atitudes, sejam elas justificáveis ou não.
O autor comenta também algumas situações interessantes, como o fato de que a mídia só se interessa pela guerra enquanto ela está acontecendo, ignorando completamente a dura situação dos sobreviventes. Além disso, vários líderes das milícias organizadas são egressos do sistema penitenciário com tendências violentas e praticamente nenhum escrúpulo, usando espólios da guerra para o seu próprio interesse e recebendo das elites abastadas para fornecer proteção especial.
Além de analisar o conflito armado, ele dedica uma atenção especial aos remanescentes, pessoas sem rumo definido que precisam se recompor física e emocionalmente após presenciar todo tipo de chacina e destruição imaginável. Fantasmas vivos de um conflito sem vencedores, condenados a vagar pelos destroços e imortalizados na obra em questão.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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