Por Gilson Salomão Pessôa
O escritor argeliano Albert Camus afirmou certa vez que toda grande história de amor necessita de um alto teor de tragédia para alcançar sua magnitude. Um grande exemplo desta premissa é a versão escrita da lenda celta cujas origens remontam ao século IX e que foi adaptada recentemente para o cinema, pela força e a beleza de sua essência.
A narrativa da película se apoia em uma das várias versões da história, onde clãs lutam pelo poder na Inglaterra e com os irlandeses que se aproveitam de sua fragmentação política após a queda do Império Romano. Tristão, jovem inglês cujos pais são assassinados pelo povo inimigo, é adotado por seu tio, Lorde Marke, e vira seu maior guerreiro.
Dado como morto, Tristão é encontrado e tratado clandestinamente no território rival pela bela Isolda, com quem se envolve amorosamente, mas ela mantém seu nome em segredo.
Ele ganha em um torneio de lutas a mão da princesa irlandesa para Lorde Marke, sem saber que ela é na verdade Isolda. O casamento trará a paz e a unificação dos clãs, mas a paixão faz com que Tristão e Isolda arrisquem tudo para viver seu amor proibido.
O filme desenvolve com calma a personalidade do casal envolvido para depois introduzir o romance, criando a necessária atmosfera para que o relacionamento aconteça.
Tristão cresceu pensando em lutar para vingar seus pais e derrotar os irlandeses, basicamente abrindo mão de quaisquer outros interesses que não estivessem direcionados para esta causa, enquanto a bela moça é constantemente usada por seu pai como troféu para motivar seus guerreiros ou gerar discórdia entre os bretões, privando a mesma de qualquer tipo de livre arbítrio.
O triângulo amoroso formado por Marke, Isolda e Tristão revela-se interessantíssimo, pois o lorde é gentil e atencioso com sua esposa, além de ter sacrificado sua mão direita no passado para salvar Tristão da morte enquanto este ainda era pequeno.
Todos esses conflitos sentimentais mergulhados num complexo contexto histórico remetem às grandes tragédias shakespearianas, sendo a peça “Romeu e Julieta” basicamente inspirada nesta história tradicional da região.
O diretor Kevin Reynolds constrói uma narrativa fluida apresentando a história de forma envolvente e gerando um carisma pelo casal que só faz crescer na medida em que a jornada trágica de ambos evolui.
A fotografia e a trilha sonora composta por músicas folclóricas celtas merecem seu devido destaque e contribuem para enriquecer o painel onde a narrativa se desenvolve.
O elenco conta com as ótimas interpretações de James Franco e Sophia Myles apresentando um casal que tem pleno conhecimento de que sua relação amorosa já nasceu condenada, mas mesmo assim persistem porque é exatamente este amor maldito que oferece sentido à suas vidas. O ator Rufus Sewell também merece menção por interpretar um Lorde Marke que tem profundo carinho pela esposa e por aquele que criou como filho, enredando complexidade à trama.
Imagem: https://www.planocritico.com/critica-tristao-e-isolda
Uma projeção belíssima que traz o espírito de romantismo e honra tão necessários em nosso triste contexto pós-moderno.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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