Por Fabiana Esteves
A semana que passou foi de Grupo de Estudos em todas as escolas do município onde trabalho. E além da minha escola, onde já tenho um trabalho contínuo de formação, fui convidada para compartilhar minha prática pedagógica em outra escola da rede, onde já havia trabalhado.
O encontro da minha escola já estava organizado e decidi incorporar às duas pautas uma atividade que normalmente não se faz nas salas de aula: a análise de textos bem escritos. A tarefa é encontrar e marcar os recursos que a autora utilizou para deixar o texto mais interessante. Escolhi duas páginas de um livro da minha autora preferida, a LYGIA BOJUNGA: A CASA DA MADRINHA. O meu traço, o meu braço e minha alma de formadora foi invadida pela minha pessoa-leitora e confesso: virei mais um leitor da Lygia, inaugurando as inferências e as larguezas das palavras…
Assim, como se eu nunca tivesse lido aquele livro tão familiar, que sempre me fazia retornar a ele, mesmo depois de ter assistido à adaptação primorosa do mesmo para o teatro. Eu nunca me canso de reler os livros da LYGIA. Mas naqueles encontros, posso dizer sem medo: foi diferente. Foram quatro grupos de professores que realizaram a tarefa comigo. No entanto, todas as leituras foram diferentes. Todas me mostraram que a literatura é uma casa de muitas portas e muitas janelas, todas abertas.
Olhar para o texto com o olhar do outro é uma sensação que todo leitor deveria experimentar, mesmo que ainda seja um leitor-ouvinte, que precisa da voz do outro para se apropriar da narrativa. Foi mágico, pleno e iluminado! Quantas nuances das aventuras do Pavão os colegas me fizeram enxergar! Na folha onde marquei as expressões e recursos de linguagem que iam se anunciando na atenta leitura coletiva, as anotações não paravam de crescer a cada novo grupo… Talvez para eles, que participaram apenas uma vez, não tenha ficado claro a grandiosidade deste momento. A magnitude deste minuto onde o outro joga a luz da lanterna na sua página e te clareia as ideias.
Obrigada LYGIA BOJUNGA por respeitar a nossa inteligência, por despertar nossa sensibilidade para o mundo e por toda a liberdade que a sua literatura carrega. A liberdade de pensar e ser muitos e muitas. Obrigada meus colegas de profissão por compartilharem a escuta, a labuta e as delícias da literatura comigo neste momento que jamais vou esquecer. Porque olhar o texto com o olhar do outro é se iluminar.
Na imagem acima, a capa do livro de Lygia Bojunga e as anotações realizadas, a respeito da obra, por Fabiana Esteves.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula", "A Encantadora de Barcos" e "Coisas de Sentir, de Comer e de Vestir". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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