Por Gisele Silva
INTRODUÇÃO
Nos dias 19 e 20 de novembro, tive a honra de participar da 1ª Feira Literária do Quilombo da Machadinha em Quissamã, interior do estado do Rio de Janeiro.
“Quissamã também é um dos poucos municípios com nome de origem africana. A área foi batizada ainda na época da exploração das terras, quando os índios Goitacazes viviam ali. Os sete capitães, primeiros proprietários das terras, encontraram um único negro no local. O negro disse ter vindo de Kissama, localidade próxima de Luanda, na África. A palavra significa “fruta da terra entre o rio e o mar”.
Conheci pessoas incríveis e presenciei atividades culturais sensacionais. Dois dias de muita aprendizagem e emoção.
Percorrendo o local prenhe de histórias ancestrais, me deparei com um conjunto de três árvores que provavelmente são centenárias. Ao me aproximar para tirar fotos, a visão e a força que emanam delas, serviu de inspiração para esse texto.
O QUE UMA ÁRVORE ME DISSE
Minhas raízes, fincadas no solo, se espalham por toda parte. Rompem a barreira de cimento e pedras. Exibem diferentes cores e formas diferentes. Abrigam algumas folhas que caem da minha copa e mudam de cor, com a passagem dos dias, prontas para se transformarem, virarem pó. Elas mostram a passagem do tempo, percurso da história que vi acontecer.
Meu tronco imponente, forte e robusto, cheio de marcas ancestrais, exibem a forma da resistência do povo que aqui viveu e lutou pela vida, pela tradição e pela liberdade. Cipós envolvem meu corpo/tronco. Servem de balanço para os mais jovens que vão de um lado para o outro, sentindo o vento nos cabelos e no corpo, pés para o alto livres.
Minha copa frondosa de folhas verdes é como uma coroa, que transborda minha nobreza e me une com as minhas irmãs. Abrigo de pássaros e de casulos que trarão novas vidas transformadas. Transpiro história, imponência, resistência, esperança, segredos, mistérios, vida e amor.
O que a árvore me disse, o que sussurrou em meus ouvidos, como fosse uma brisa suave, trouxe arrepio a minha pele: “Contempla criança, minha existência, acaricia minhas marcas, sente minha memória. Guarda em tua retina minha força, respira fundo e deixa cair suas lagrimas de emoção e respeito. Agradeces a oportunidade de teres me conhecido e viver um pouco de minha história!”
Autoria
Gisele Silva é Pedagoga que atua com professoras e alunos de uma Escola Especial para Autistas em São João de Meriti. Professora dos anos iniciais na cidade do Rio de Janeiro. Pós Graduada em Alfabetização das Crianças das Classes Populares pela UFF. Faz parte do Coletivo “Encantadores de Letras”. Autora do Projeto “Caixa de Encantamentos” que incentiva a leitura, estimulando a percepção, a imaginação e o fazer criativo. Iniciou o caminho como escritora em 2019 publicando 3 livros de literatura infantil e participando com dois textos na coletânea "Vozes Negras: tecendo a resistência".
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Instagram: @giselesilvapegagoga
Facebook: Gisele Silva Pedagoga
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