Por Amanda Meireles
Meu pai não era homem de muitas palavras. Mais ouvia que falava. Por muitas vezes, observava em seu rosto uma expressão muito típica: olhar pro alto, fixado em "nada", sobrancelhas levemente arcadas, cabeça balançando levemente para cima e para baixo, em sinal de que havia acabado de concluir seus pensamentos. Ele não percebia que alguém olhava para ele. Até que eu perguntava: "O que foi, pai?". Raramente ele compartilhava suas reflexões, a menos que me rendesse algum conselho.
Já era ele me ensinando, sem palavras e despretensiosamente, que falar é necessário e saber ouvir, ainda mais importante. Mas para dar sentido às duas ações, precisamos compreender o que se ouviu. Para mim, por exemplo, sempre foi difícil expressar o que sentia. Sempre fui alegre, comunicativa (apesar de tímida), sempre gostei de gente, de ser ouvidos, de dar atenção e acolher. Mas na hora de me abrir, falar sobre meus medos, angústias, tristezas, não era (e ainda não é) tão fácil. Penso que, quando alguém abre o coração, quando uma pessoa procura ajuda para conversar, está confiando algo de muito valor ao outro. Por vezes são feridas que precisam ser curadas e, para curar, precisamos falar.
E a gente aprende que nem todos sabem o que fazer com o que você tem a comunicar. Raramente alguém sabe o que fazer com essa ferida. Quando você encontra esse ouvinte, encontra um tesouro! Nem sempre ele terá as respostas que você precisa, nem sempre concordará com você. Mas sempre estará disposto a compreender e a valorizar os sentimentos comunicados.
Meu convite é que sejamos esse ouvinte. Se identificamos essa demanda, podemos promover a oferta. Vamos jogar o Jogo do Contente, Poliana? Se um dia você esteve no lugar de quem fala e não foi acolhido, pode hoje ocupar o lugar do outro no diálogo e ser acolhimento para quem precisa de você. E como tem gente precisando da gente! Aliás, aprendi com uma linda menina chamada Ana, que “vencemos muitas barreiras quando ouvimos com o coração” (O Jeito que Ana Ouvia).
Autoria
Amanda Meireles nasceu em 09 de outubro de 1983, em Duque de Caxias. Mãe apaixonada de Isabela e Isaque, estudante de Psicopedagogia, defensora da inclusão e do acolhimento, intérprete de Libras há 11 anos, autora do livro "O Jeito Que Ana Ouvia".
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