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O desafio gigante da inclusão

Por Fabiana Esteves


Mãe e filha em um campo de trigo

Isis decidiu que não vai dormir à noite e isso tirou toda a possibilidade de participação nas aulas ao vivo e a realização das tarefas. Já respondendo à pergunta que você, leitor, vai fazer: sim, ela dorme de dia. Sim, a inclusão é difícil. Sim, ela não acontece como deveria. Os professores não estão preparados para a inclusão? Sim, mas também não estávamos preparados para o ensino remoto, e ele está acontecendo… Não estávamos preparados para usar aplicativos de videoconferência, e aprendemos. Como se aprende a andar? Andando! Como se aprende a dirigir? Dirigindo!


Como eu escrevi aqui outro dia, fiz um curso a distância sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) gratuito, oferecido por uma universidade pública, e os professores estavam lá por iniciativa própria, estudando no tempo livre de que dispõem. Estavam trabalhando para fazer a inclusão acontecer. Sim, a inclusão é difícil, um desafio gigante. Como diz um pregador que acompanho, tudo que presta nesta vida é difícil. A caminhada tortuosa chegará um dia ao fim, quando atingirmos o topo. Mesmo assim, novos desafios se anunciarão.


Acredito que já avançamos muito na questão dos direitos. Temos as carteirinhas de identificação, a obrigatoriedade dos planos de saúde em oferecer todas as terapias, a lei que garante a matrícula em escola regular e ampara o apoio de um mediador escolar, as adaptações curriculares, os Planos Educacionais Individualizados... No entanto, acredito que a informação ainda é muito precária, e as leis precisam sempre de pressão extra para que aconteçam na prática, precisamos recorrer à justiça para que estes direitos estejam garantidos. O autismo não está na cara. Para quem está na fila do caixa, parece frescura que eu tenha direito a preferencial. Afinal, minha filha não tem cara de deficiente. Sempre penso no quanto ela se sente desconfortável em declarar-se publicamente deficiente. Esta palavra tem um tom extremamente depreciativo, não há como negar. Mas se é preciso usar este termo para garantir direitos…


Avançamos muito na legislação, mas ainda há um longo caminhar. A escola da minha filha, pública, ainda não tem mediadores para ajudar estes alunos. Onde trabalho, há dois mediadores para um número crescente de alunos que necessitam de apoio. Os serviços de saúde ainda não atendem nossos alunos do jeito que deveriam. A gente sofre. Mas mesmo assim, meu olhar ainda é otimista. Demos vários primeiros passos, embora ainda falte uma estrada inteira esperando para ser trilhada. Saber que muitas mães ainda desejam matricular seus filhos em escolas especializadas me entristece muito. No entanto, entendo. Elas estão cansadas de sofrer. Eu sofro, minha filha sofre, mas jogar a toalha neste momento não me parece opção. A escola precisa mudar? Verdade. Mas onde está o investimento público na formação dos professores, na estrutura física das escolas, na compra de materiais, nos serviços de saúde? Se desistirmos, menos ainda se fará. Muitas lutas ainda estão por vir.


Agora, enquanto minha filha dorme, já não me sinto culpada por tudo que não conseguimos, e sim vitoriosa por defender a causa autista e por levantar uma bandeira que não é só minha, mas de todos nós...




Ísis, filha de Fabiana Esteves

Nas fotos acima, Ísis, filha de Fabiana Esteves.




 

Autoria


Autora Fabiana Esteves

Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula", "A Encantadora de Barcos" e "Coisas de Sentir, de Comer e de Vestir". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.


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