Por Fabiana Esteves
Quase aos cinquenta sinto vontade (ou ela se impõe) de aprender algo novo. Não preciso me matricular em nenhum curso. Tenho duas professoras particulares em casa. Ensinam tudo: desde a língua francesa até os conceitos atuais da nova pós-modernidade(?). No entanto, não sou lá muito boa aluna. Escorrego na pronúncia, utilizo ainda termos preconceituosos completamente proibidos, e sempre tropeço quando vou explicar o que aprendi aos amigos. No meio da fala, sou interrompida para imediata correção. Elas têm paciência. Repetem, mostram vídeos, exemplificam e ilustram. Nem sempre dá certo. O meu conceito de certo já nem sei mais onde se esconde. Brigo não pelo controle remoto, mas pelo controle da minha própria caminhada aprendente. Até minhas atitudes impulsivas são barradas pelas minhas psicólogas de plantão. Chego muito brava em casa e quero ficar sozinha reclamando. Recuso o abraço e demonstro o que estou sentindo. A Ísis se ressente e lá vem a irmã colocar os pingos que deixei faltando nos is: "Mãe, explica por favor que você estar brava não é culpa dela!" Eu despejo um "ela sabe" e saio do recinto. Depois reflito lembrando uma cena do filme Gênio indomável. O terapeuta abraça o seu paciente e repete sem cessar que não é culpa dele até culminar em um choro soluçante e libertador. Ele finalmente tomou consciência de que todas as tragédias familiares da vida não eram culpa dele. Choro sempre que assisto novamente.
Perdi o entusiasmo do confronto porque aprendi com elas a respeitar o tempo e o espaço de cada um. Bem mais produtivo do que o tempo quando eu só dava ordens esperando a execução. O nosso papo é sempre útil. Os adjetivos não serão jogados ao vento. A diversidade permeia as conversas profundas e ganha também os amigos que chegam perto. Mas eu amo mesmo é quando as vejo indignadas com alguma injustiça ou tiram da invisibilidade as minorias oprimidas que encontram nas estradas da vida. Ah, eu me desfaleço de orgulho…
Ísis e Laís, filhas de Fabiana Esteves
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula", "A Encantadora de Barcos" e "Coisas de Sentir, de Comer e de Vestir". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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