Por Fabiana Esteves
Rotina é o que temos para hoje. Rotina é o que temos para os próximos dias. Deixemos de maldizê-la. A rotina é o que temos para este tempo. Há que se cuidar do repetir porque ele pode deixar de se repetir. Ele pode não se repetir nunca mais.
"Parem de falar mal da rotina!" como escreveu e transformou em espetáculo a poeta Elisa Lucinda. Tínhamos uma rotina antes da pandemia. Tínhamos uma lista interminável de afazeres chatos e repetitivos. Hoje eles fazem falta. Aquela visita irritante que batia à nossa porta nos horários mais improváveis não vem mais. A falta de dinheiro bate à porta no lugar dela.
O trabalho teve de ser reinventado. A escola teve de ser reinventada. Os rein-ventos varreram as nossas seguranças para longe. Alguns não deram valor aos seus rotinamentos e eles simplesmente foram embora. Outros amavam seus repetimentos e eles repetiram-se tanto nesses tempos que já não os queremos mais.
A quarentena está se esgueirando ano adentro e caso não nos cuidemos seremos tomados pelo pânico, pela irritabilidade ou pelo tédio. Alguns pela exaustão. A fé, a arte, a literatura e a concentração nas pequenas (e boas) coisas pode nos salvar de acabar "chamando urubu de meu louro". Antes de surtar, vale repetir o reverso. Mas não o reverso no sentido de contrário. Outra definição se faz necessária: o re-verso também é o repetir de um verso, mas de outro jeito.
Toda situação tem dois lados: o vírus trouxe menos poluição no ar e nos rios, menos acidentes de trânsito... Alguns filhos que nunca veriam os pais em dias de semana estão desfrutando da sua presença em tempo integral. Outros que nem sabiam direito a definição da palavra saudade, agora a estão experimentando em todos os segundos do seu dia.
Sejamos como os meus espectadores de um certo evento literário. Eu lia um poema sobre como as rotinas podem corroer as relações afetivas. Ao final da leitura recebi olhares e sorrisos que não entendi de pronto, precisei de explicação. "Ah, que legal, todas as ações eram só uma preparação para o amor, não é?" Não eram. Mas contagiada pelo otimismo e delicadeza da minha plateia, mudei o título do poema. E o destino dos personagens.
Na foto acima, Fabiana Esteves em um evento literário. Na foto abaixo, Laís e Ísis, filhas de Fabiana Esteves, preparando uma de suas receitas.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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