Por Fabiana Esteves
"O meu pensamento tem a cor do seu vestido / Com um girassol que tem a cor do seu cabelo" (Lô Borges/MarcioBorges)
Aposto que ela sonha com um vestido cor de mar onde ela nunca teve o prazer de molhar os pés. Com certeza a trilha sonora deve ter os mesmos acordes que ela ouve nos seus silenciosos bloqueadores de ruído. Um som solar sem filtro, sem o jugo da obrigação ou o status da preguiça. Mas com a química necessária aos casais que moram nos romances que ela lê nas horas vagas que vagam na pressa dos seus dias. Dias sem o pavor das obras de arte gigantes que assaltam sua paz de espírito (era a única coisa que ela tinha na infância).
Seria um gosto de reclusão que freia seus passos de dança, atira longe suas sapatilhas e estremece seu voo noturno sem plateia? Assim, sem palco, sem o tablado que lhe coloca no alto do pódio onde ela pensa que não merece estar. Sempre me pergunto porque alinhavo essa prosa poética que não azuleja o lavabo onde ela escuta o som dos próprios passos escorregando sem cessar em seu repetido balançar em direção ao corredor restrito que dá caminho ao seu extenso mundo interior.
Sempre me pergunto que cor tem os pensamentos dela. Que quentura nos dedos desenha seus cachos todas as manhãs desejando um vestido florido no lugar do uniforme escolar? Se eu morrer escreva a minha história, eu digo. Mas ela está imersa na própria trilha de tacos, acordes e meias sem as veias vermelhas antiderrapantes. Quantas vezes vou contar a ela do dia em que quebrei o nariz? Muitas. O vizinho de baixo se ressente da dança porque não escuta a música dela nem vê seu sorriso que parece rodopiar no mesmo compasso dos versos que presumo escritos em língua inglesa mas que eu precariamente traduzo. Consigo?
Ísis e Laís, filhas de Fabiana Esteves.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula", "A Encantadora de Barcos" e "Coisas de Sentir, de Comer e de Vestir". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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