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Marildo

Por Paulo Pazz



Marildo atravessou o meio do pátio do grupinho do bairro Pio Gomes e desceu pela rua que passava na frente da "chacra das madre". Cruzou a ponte e continuou pela rua, agora em subida. Na esquina em que morava o "seu Transval", virou à esquerda e seguiu pela avenida Vinte de Agosto.


Marildo não levava nas pernas a pressa que sua mãe exigia, mas ia, como sempre fora, comprar óleo a granel que só era vendido na Comercial Mesquita. De vez em quando, o caldeirãozinho de alumínio tinia ao bater em sua perna magra e cheia de cicatrizes provocadas por uma alergia que empolara todo seu corpinho esquelético.


Marildo se encanta com a casa de "dona Mariazinha". A frente da casa tinha a parede toda recoberta por pedrinhas brancas, retiradas do leito do Rio Veríssimo, distante mais ou menos 7 léguas da cidade, pras bandas de Ipameri.


Era no meio daquele mosaico cascalhento que o olhar de Marildo se perdia, até que a obrigação o impelia a tocar em frente. A bem da verdade, a casa é um marco histórico de toda Catalão. Não há um cidadão catalano que não conheça aquela mansão para os padrões de quando foi construída, de frente para a avenida principal e com um quintal que ia até as margens do Ribeirão Pirapitinga - veia aberta que corta toda a cidade ao meio.


Ao voltar, Marildo não pararia ali novamente. Para não ter ímpetos, passaria do outro lado da rua e miraria a casa de longe. Cruzando novamente a ponte sobre o ribeirão, com mais quatro quarteirões, chega em casa a tempo de não ouvir os impropérios da mãe. Deixa o caldeirãozinho no rabo do fogão à lenha e chispa para o seu quartinho.


Marildo retira de sob o colchão um livro antigo de geografia. Já tem a página marcada, para onde seus sonhos se encaminham desfilando incansáveis: página 84!


A exuberância do mar. Ah, o mar, imenso azul a sumir de vista. Marildo duvidava que existiria tanta água junta, mas singrava-o na gravura. Fazia um barco a velas, vestia-se de pirata, fundeava em ilhas não "descobridas".


Marildo dormira com o livro aberto sobre o peito escancarado.

Um dia, Marildo virou mar revolto...



 

Autoria


Paulo Pazz é licenciado em Letras pela UFG-CAC, Professor pelo Estado de Goiás e Membro da ACL - Academia Catalana de Letras. Também é revisor e colunista da Revista Portalvip (com circulação em toda região sudeste de Goiás), integrante da Comissão julgadora das Olimpíadas da Língua Portuguesa desde 2014, ator integrante da Cia Express’arte e instrutor de “Contação de Causos" pelo Centro Cultural Labibe Faiad (Catalão/GO). Participou da mesa redonda O fazer Poético e do Sarau de Poesias (ambos do I FLICAT UFG) e do Festival Literário do Cerrado – FLICA (Ipameri-GO), edições I, III e IV. Mantém a Página literária do blog Recanto das Letras, do site da UOL, desde Outubro de 2008. Recebeu oito premiações em concursos literários mantidos pela UFG (a primeira em 1993), cinco premiações pelo SESI-Arte e Criatividade (nas categorias Conto e Poesia) e o Prêmio “Trabalhador da Indústria” pelo SESI. Participou de duas antologias poéticas publicadas pelo SESI – Serviço Social da Indústria e publicou os livros "Palavra Lavrada", "Transfiguração" e "Manual do Desesquecimento".



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