Por Fabiana Esteves
Um amigo é muito mais do que aquele número que você tem na sua página do Facebook. Mais do que um seguidor no Instagram. Mais do que aquele que te segue de volta. Mais do que um conjunto de fotos curtidas. Mais do que aquele que confere os seus stories. Mais do que aqueles muitos comentários quando você publica uma foto nova. Mais do que inúmeras mensagens que deixam na sua linha do tempo no dia do seu aniversário. Mais do que um contato no WhatsApp. Mais do que aquele que te coloca em mil grupos onde as mensagens de Bom dia e as figurinhas são o conteúdo mais relevante.
O verdadeiro amigo é analógico, não digital. É aquele que, mesmo um usuário frequente da tecnologia, prefere te ver no dia do aniversário, te liga quando teu filho cai doente, te abraça na hora da perda e não precisa de cerimônia para entrar na tua casa.
Vale a pena tê-lo na agenda do seu celular, ou melhor, vale a pena guardar seu número na agenda da memória, de cor, como se fazia em outros tempos. Vale um espaço no chip e outro no coração.
Infelizmente, no momento atípico que vivemos, todos os amigos, por enquanto, precisam ser virtuais. Há poucos meses eu tinha apenas uma amiga distante, morando em outro país. Agora todas as outras amigas ganharam o mesmo status: não estão aqui. Não podemos marcar um café, um piquenique, churrasco, se encontrar em um lançamento de livro ou se esbarrar por acaso em um encontro pedagógico.
Somos um bando de quadradinhos amontoados na tela. Perco o ritmo da fala. Os amigos não lêem meu semblante e se calam pois sentem que eu quero falar. As falas se embolam e ficam inaudíveis até o outro se dar conta que é preciso silenciar. Até que isso aconteça, muitas palavras que queriam ser ditas morrem no canto da boca. A tela craquelada não resiste ao cronômetro e se dissolve à minha frente como um holograma dos filmes de ficção científica dos anos 80. Não somos os Jetsons.
Nesta semana em que celebramos o Dia do Amigo desejo que você consiga esperar antes de desistir de alguém. Que você consiga compreender o verdadeiro sentido da palavra paciência e saiba sofrer este tempo em que a vida passa nas janelas, mas não entra. Este tempo em que a vida vem de máscara e não passa da porta. E saiba aguardar o tempo em que até os seus amigos virtuais se transfigurem e passem a amigos de verdade, daqueles que valem muito mais do que uma simples curtida.
Na foto acima, Fabiana Esteves e Flaviana Gonzaga.
Na foto abaixo, Fabiana Esteves, Flaviana Gonzaga, Ísis e Laís.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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