Por Fabiana Esteves
Meu pai sempre foi um cinéfilo de carteirinha. Na juventude lavava os trinta e seis degraus da casa a fim de conquistar os tão sonhados ingressos de cinema.
Quando eu tinha seis anos lançava no cinema um dos maiores sucessos de todos os tempos: ET, o extraterrestre. Eu e ele fomos seis vezes seguidas assistir este filme na tela grande. Choramos todas as vezes no fim. Não me fiz de rogada e quando algum parente comentava que desejava assistir, eu oferecia minha companhia de bom grado. Assim, garanti mais duas sessões. Total: oito.
Hoje em dia pagar ingresso para assistir oito vezes o mesmo filme parece mesmo insano. Mas nós seres humanos somos movidos a narrativa. Contamos histórias, vivemos histórias, assistimos e ouvimos histórias o tempo todo.
Não é surpresa o sucesso das novelas em todo o mundo. Novelas são cafonas? Acompanhamos séries nas plataformas de streaming com o mesmo ardor que a minha avó diante do capítulo da trama das seis. Minha mãe conta com paixão a hora sagrada da infância onde todos se reuniam em volta do rádio para ouvir as histórias do "Tio Janjão". O mesmo entusiasmo de hoje.
O veículo mudou, a variedade de ofertas se multiplicou imensamente, mas a essência é a mesma. Uma história puxa a outra, e tece o fio de narrativa que escreve a nossa existência. É completamente impossível não se enredar nas teias narrativas. Elas estão por toda a parte. Nos jornais, nas redes socais, e até nos anúncios. Desde que a quarentena começou, assistimos a um filme por noite. Aprendemos muito algumas vezes, nos encantamos em outras, nos indignamos em outras tantas, mas a mágica permanece. Festival de filmes franceses, africanos, ingleses, e é claro, americanos. Laís, que agora se mostrou uma aficcionada pela Segunda Guerra Mundial, me ajuda na escolha, conhece novos pontos de vista e foge dos clichês. Agora tem se animado a resenhar filmes também, além dos livros. Ísis prefere os desenhos animados em 2D (de preferência japoneses), que costuma assistir sempre na língua original. Culturas diferentes são seu fascínio. Meu marido descansa dos catálogos que já conhece de cor e mergulha nos noticiários e comentários futebolísticos. Eu escolho sempre o cinema brasileiro, é dos melhores, e não há língua mais linda que o português falado por nós, com todas as influências que lhe cabem.
Confesso que herdei do meu pai esta paixão pela sétima arte. E nas sessões de cinema sem pressa aprendi a amar os créditos. A valorizar cada profissional que trabalha nesta área. Ah, e nada melhor do que passear os olhos pelas letras miúdas e se deparar com a certeza já esperada: "Ah, história tão boa só podia mesmo ser baseada em um livro!" Afinal de contas, os livros guardam as histórias que a humanidade contava mas teimava em não querer esquecer…
Nas fotos acima: Claudio, Ísis e Laís, família de Fabiana Esteves
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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