Por Gisele Silva
Um quadro, com a frase que dá título a esse texto, habitou (e ainda habita) a sala de estar da casa. Agora ao lado da porta de entrada, mas antes teve seu lugar na parede principal, acima do sofá.
Quando chegou, envolto a um papel de presente, a curiosidade da família foi latente. Ao abri-lo, que alegria. Um desenho quase infantil: um imenso e simpático elefante sorrindo para um pequeno ratinho que o olhava com carinho e abaixo a frase: “O que eu gosto de você não tem tamanho!”
Pode parecer sem sentido, mas a imagem retratada esbanjava ternura, aconchego e uma maneira simples de expressar carinho e amor. Por anos ele permaneceu na parede principal. A vista de quem quer que entrasse, imponente. Exalando sua importância, arrancando sorrisos por tão inusitada surpresa.
Anos depois, uma mudança radical aconteceu. Ela chegou! Um pequenino ser passou a encantar os corações, preenchendo com alegria e frases engraçadas a casa e a vida da família. Ocupou todos os espaços até os pequenos cantos. Fez a família (re) aprender a forma de ver as coisas e até de se relacionar. A rotina foi mudada e uma revolução começou a acontecer aos poucos.
À medida que a garotinha crescia, as fotos da câmera antiga já não eram suficientes. Muitos momentos a serem registrados, guardados em diversos álbuns, para ver e rever. E então chegou o momento da escola. Um pequeno ensaio fotográfico foi realizado, passando a ocupar a parede principal, dividindo o espaço com o quadro que havia chegado primeiro.
O tempo passou e agora um pouco mais crescida, a menina fez um segundo ensaio fotográfico com um tratamento mais profissional.
Não me lembro o momento em que o quadro antigo passou a ser apenas uma moldura. A imagem pueril do elefante e do ratinho, deu lugar a uma das fotos da menina. Realmente não havia local mais apropriado para a foto ampliada ocupar, que não fosse colada ali.
Ainda hoje, a foto continua no mesmo lugar: na parede ao lado da porta de entrada. Quando dentro da casa, ninguém consegue tirar os olhos da menina sorridente de olhos atentos e cachos emoldurados por flores. A menina que tornou-se mulher, mãe e esposa, uma adulta com responsabilidades mil.
Para mim, cada vez que olho aquela foto da pessoa que mudou minha vida, penso na frase do quadro que a substituiu. Penso nos momentos de alegria, apreensão e tantos sentimentos contraditórios que a maternidade nos faz caminhar.
E, por vezes, a saudade daquele tempo emerge em meu coração. Saudade de pentear aqueles cachos, das leituras e brincadeiras em conjunto e da simplicidade de apenas estarmos juntas.
Vai aqui uma homenagem, através da frase que permanece, “escondida” atrás da foto, mas que sempre estará gravada em minha memória e coração:
— “FILHA, O QUE EU GOSTO DE VOCÊ NÃO TEM TAMANHO!”
Autoria
Gisele Silva é Pedagoga que atua com professoras e alunos de uma Escola Especial para Autistas em São João de Meriti. Professora dos anos iniciais na cidade do Rio de Janeiro. Pós Graduada em Alfabetização das Crianças das Classes Populares pela UFF. Faz parte do Coletivo “Encantadores de Letras”. Autora do Projeto “Caixa de Encantamentos” que incentiva a leitura, estimulando a percepção, a imaginação e o fazer criativo. Iniciou o caminho como escritora em 2019 publicando 3 livros de literatura infantil e participando com dois textos na coletânea "Vozes Negras: tecendo a resistência".
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Instagram: @giselesilvapegagoga
Facebook: Gisele Silva Pedagoga
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