Por Gilson Salomão Pessôa
O oceano é sempre fascinante, bem como as histórias que o tem como cenário. O filme em questão é mais uma confirmação dessa premissa. Seu protagonista é um célebre biólogo/documentarista passando por uma fase de decadência que organiza uma expedição para matar um misterioso tubarão que devorou seu melhor amigo (e membro da equipe) na costa oeste da África.
A equipe de Zissou é notável por sua diversidade étnica, onde todos são indispensáveis e funcionam como uma engrenagem no processo. É bacana notar como o biólogo trata seus séquitos, sempre criando apelidos carinhosos e fazendo questão que todos participem de sua empreitada, ao contrário de seu “rival”, o capitão Henessey, que trata com distância seus empregados.
Enquanto organiza a viagem acaba conhecendo Ned Plimpton, um homem que pode ser seu filho e termina convidando o mesmo para fazer parte do grupo, despertando ciúmes em Klaus, um antigo parceiro de Steve que o sempre considerou como pai.
Um outro agravante é a chegada de Jane Winslett-Richardson, uma jornalista da revista Oceanographic Explorer (o layout é idêntico ao da National Geographic) que está à bordo para escrever uma matéria sobre o famoso biólogo e que atrai o interesse do recém-chegado, bem como o de Zissou.
Numa clara referência ao famoso pesquisador marinho Jacques-Yves Cousteau (a película é dedicada à ele e sua fundação), que pode ser notada nos gorros vermelhos usados por toda a tripulação do barco Belafonte, as imagens do documentário são intercaladas com as cenas cotidianas na embarcação, o que é um exercício interessante de estilo.
Dirigido por Wes Anderson, a projeção é interessante por procurar dar um enfoque a todos os tripulantes do barco, ao invés de se concentrar em apenas um deles. Além disso, todas sub-tramas são bem desenvolvidas, enriquecendo a narrativa.
O universo marinho é mostrado de forma idílica, onde aparecem fantásticas criaturas marinhas criadas a partir da imaginação do cineasta, tais como o lindo cavalo-marinho crayon. Além da fotografia exemplar, a trilha sonora é excelente, com Seu Jorge cantando músicas do David Bowie em português (sei que o conceito é estranho, mas o resultado é ótimo).
Muitas vezes ficamos pensando tanto nas metas que acabamos não prestando atenção no caminho percorrido. O final acabará surpreendendo de qualquer forma. Zissou está sempre pensando em se aposentar porque acredita que está muito velho e seus dias estão terminando, mas depois percebe que não pode simplesmente fechar seu espírito e esperar a morte.
O elenco dispensa comentários. Todos estão perfeitos. Destaque para mais uma excelente performance de Bill Murray, que constrói um Zissou deprimido mas profundamente apaixonado pelo seu trabalho e Willem Dafoe, que interpreta Klaus como alguém cuja fidelidade à Steve é inquestionável, mesmo quando suas idéias soam egoístas e suicidas.
Uma película formidável que traz a mesma mensagem do romance Moby Dick, de Hermam Mellville: o oceano é magistral e titânico, sendo o homem ridículo perante ele.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".