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A Vida É Melhor Ao Vivo

Por Fabiana Esteves


Revendo em vídeo alguns espetáculos que assisti antes, ao vivo, reverbera a emoção, mas não a emoção provocada pela imagem à minha frente, mas a emoção da memória, da memória afetiva. Memória essa que me traz saudade.


Como todos sabem eu trabalho em escola, e escola é contato, é afeto, seja bom ou ruim o que vivemos lá, é tudo muito intenso e humano. As escolas foram as primeiras a parar porque são o retrato do contato. Não há um dia em que passei sem tocar em alguém, não há um dia em que as mãos passaram recolhidas. Já chorei e sorri com muitas mães, crianças, adolescentes, professores, funcionários. Essa festa de afeto faz falta.


Podemos usar  o aplicativo de conferências virtuais para interagir? Tudo bem, podemos. Podemos enviar atividades pelo "ZAP"? Tudo bem, podemos. Podemos gravar vídeo-aulas? Tudo bem, podemos. Podemos entregar exercícios para os pais levarem? Tudo bem, podemos. Podemos fazer tudo isso, mas os olhares encorajadores, aquele afagar no ombro quando a criança tem medo de errar, aquela expressão que assola o rosto quando alguém interrompe a leitura de um livro fantástico, aquele cafuné  no cabelo, a correria e gritaria que invade o corredor assim que se anuncia o recreio, não há plataforma que consiga reproduzir.


Tecnicamente, também faltarão as intervenções, as perguntas certas que nós professores fazemos para despertar uma reflexão que estava adormecida, aquela pista que a criança precisava para encontrar a solução para o desafio. Intervenções que não podem ser feitas por qualquer um. Exigem não somente a formação acadêmica mas também a humana. O conhecimento está nos livros, o conhecimento está na Internet, mas a verdadeira aprendizagem exige interação, exige construção coletiva. É no outro que me reinvento. Reinventar-se assim de longe não tem sido nada fácil para nós educadores e muito menos para as crianças.


Mesmo eu que sempre tive muita intimidade com a tecnologia, tenho um problema sério com cursos online, principalmente se envolvem plataformas cheias de abas. Juro que tenho tentado. Como tentam esses dias professores para os quais a informática não passava de um recurso em um futuro distante, muito à frente... Estamos como passageiros daquele avião da série Manifest, que aterrissaram e perceberam que já haviam se passado cinco anos. As mudanças foram muitas, ligeiras como relâmpagos. Sem aviso. Estamos sem chão. O vento que nos varreu os alicerces não tem data para parar de ventar e virar brisa. Sigamos tentando, mas não sozinhos. É no outro que eu me rein-vento. Mesmo de longe, o que hoje é inevitável. E esse vento? Não há de ser nada. Já dizia o poeta Mario Quintana: "Um dia acordarás em um quarto novo…"



Um dia acordaremos e a educação será outra, isso é certo, mas não mais virtual e sim real, com os toques libertados de todo medo. Porque  educação é vida. E a vida é melhor ao vivo.


 

Autoria


Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.

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