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A Máquina

Por Gisele Silva




O dono da casa era extremamente metódico. Organizado ao extremo. Tinha tudo perfeitamente guardado. Documentos em pastas, com etiquetas adesivas informando o que nelas, continha. Notas de compras, revistas antigas.


Agendas com datas dos aniversários dos familiares, de compras realizadas, de eventos importantes, fossem felizes ou tristes e até consertos de eletrodomésticos.


Álbuns de fotografias. Muitos. Muitas recordações: de crianças, festas, adultos, animais, paisagens, carros comprados e vendidos!


Cadernos com tabelas elaboradas. Contas a pagar e a receber todas minunciosamente calculadas.


O dono da casa, tinha suas gavetas arrumadas à perfeição! Camisas de malha, meias e roupas de baixo dobradas e devidamente separadas umas das outras. Nos cabides, calças e camisas sociais repousavam aguardando sua vez de serem usadas.


O dono da casa gostava também de pequenos livros, jornais e poesias. Cultivava também um amor intenso pela música. Cultivava uma enorme coleção de discos de vinil de gêneros musicais variados. De valsa a grupos de “rock” popular.


Tinha também fitas cassetes, meticulosamente arrumadas, pelo nome dos intérpretes e de inúmeras gravações caseiras que fazia sempre. E um violão que nunca aprendeu a tocar...

Sendo assim tão organizado, resolveu comprar uma máquina de escrever. Sucesso dos novos tempos, que ele também admirava. Ela tinha um nome diferente, estrangeiro com certeza, alemão. Estava em uma grande mala preta e pesada.


Diariamente, ele a utilizava. Por vezes a máquina fazia um suave barulho pela casa, silenciosa. TEC, TEC, TEC. Em outros momentos, como era bem moderna, ao pressionar a barra de espaço, o chamado “carro” corria depressa até o final da folha.


Dali saiam muitas palavras, em preto e vermelho (cores da fita).


Letras de músicas, poesias que decorará, lembretes e bilhetes rápidos. Pequenos trechos de contos escritos em prosa, copiados de livros. E as etiquetas que organizavam suas pastas.


O dono da casa sabia que tudo o que estava guardado era muito importante e precisava de zelo e atenção.


Será que ele sabia, que toda essa ação serviria de exemplo para um texto como esse, recheado de encanto, saudade e poesia?



 

Autoria



Gisele Silva é Pedagoga que atua com professoras e alunos de uma Escola Especial para Autistas em São João de Meriti. Professora dos anos iniciais na cidade do Rio de Janeiro. Pós Graduada em Alfabetização das Crianças das Classes Populares pela UFF. Faz parte do Coletivo “Encantadores de Letras”. Autora do Projeto “Caixa de Encantamentos” que incentiva a leitura, estimulando a percepção, a imaginação e o fazer criativo. Iniciou o caminho como escritora em 2019 publicando 3 livros de literatura infantil e participando com dois textos na coletânea "Vozes Negras: tecendo a resistência".


Redes sociais:

Instagram: @giselesilvapegagoga

Facebook: Gisele Silva Pedagoga

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